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Exemplar jovem da espécie Anthracotorax nigricolis  e polinização

Polinização

Exemplar jovem da espécie Anthracotorax nigricolis com a plumagem da garganta ao ventre impregnada de pólen. Portanto, essa cor laranja não é da plumagem desse beija-flor. Os filhotes podem ser muito desajeitados e enquanto não dominam com maestria a arte de voar, esbarram nas flores ficando lambuzados com o pólen. A polinização não ocorre necessariamente de um voo desajeitado. Esta imagem é apenas uma evidência de que essas aves fazem parte da cadeia de reprodução de algumas plantas.

Só na região Sul do Brasil existe cerca de 200 espécies conhecidas de vegetais, cujas flores são polinizadas exclusivamente por beija-flores (Frisch & Frisch, 1995). A importância ecológica disso justifica um esforço para sua preservação. Existem plantas que dependem de um único polinizador e se ele desaparecer, a planta também desaparece, o que pode acontecer tão discretamente que não nos daremos conta. Uma árvore pode viver por anos sem o seu polinizador, mas se ela não se propagar a espécie não sobrevive. Teríamos notado que em seus últimos anos suas flores não produziam sementes? Quando uma planta não possui potencial ornamental ou paisagístico, frequentemente as condenamos. O potencial ecológico não é tão bem compreendido, pois requer uma sensibilidade diferente. Eventualmente algumas dessas plantas sobrevivem por algum tempo em terrenos que ainda não foram ocupados, à beira de lagos, rios ou riachos e só aí podemos encontrá-las. O desaparecimento de qualquer espécie é sempre uma tragédia global, por mais insignificante que nos possa parecer.

Florisuga fusca  
Chlorostilbon lucidus (macho), ainda imaturo.A plumagem da parte ventral está manchada com o pólen das flores de Tithonia rotundifolia (Asteraceae).

Chlorostilbon lucidus (macho), ainda imaturo.A plumagem da parte ventral está manchada com o pólen das flores de Tithonia rotundifolia (Asteraceae).

Florisuga fusca  é um beija-flor quase negro. A mancha canela próxima ao bico e abaixo dos olhos revela que esse exemplar de beija-flor ainda é jovem. Ela desaparece na maturidade. Entretanto, a mancha amarela na fronte não é da plumagem. É o pólen que aderiu à plumagem e que provavelmente será transferido para outras flores. Nesse caso, os grãos de pólen estão no lugar certo para transporte, pois o bico e a fronte são quase que inteiramente introduzidos nas flores maiores. O fato desse exemplar não estar com pólen grudado em outras partes do corpo, denota que essa ave domina bem o voo e não esbarra desajeitadamente nas flores.

Estas duas imagens de Anthracotorax nigricolis (macho) visitando as flores de Pyrostegia venusta (Bignoniaceae), são para mostrar a dinâmica da polinização. A planta também é conhecida pelo nome popular de Cipó-de-São-João e cresce em todo o território brasileiro nos mais variados tipos de terrenos. Suas flores são um exemplo típico das flores que coevoluíram com os beija-flores. Tanto as anteras que contém o pólen como o estigma que o recebe estão projetados para fora da flor, um pouco antes da abertura da corola. Assim, quando o beija-flor introduz o seu bico, sua fronte toca essas partes e poliniza a flor. O formato alongado e tubular dessa, dificulta o acesso de insetos ao néctar e isso os "desencoraja" a serem competidores. Vamos lembrar que a língua do beija-flor pode se projetar o dobro do comprimento do seu bico, portanto esse conjunto lhe garante acesso ao precioso líquido.

Anthracotorax nigricolis (macho) visitando as flores de Pyrostegia venusta (Bignoniaceae), 
Anthracotorax nigricolis (macho) visitando as flores de Pyrostegia venusta (Bignoniaceae), 
Glaucis hirsutus e Dyckia encholirioides (Bromeliaceae)

Diferente do exemplo anterior, as flores da Dyckia encholirioides (Bromeliaceae) são pequenas e as anteras e o estigma estão mais para dentro da flor. A ponta do bico ou o movimento da língua da ave são suficientes como instrumentos de polinização. Mas esse tipo de flor permite que insetos também a polinizem. Pode ser uma vantagem evolucionária para esta bromélia, pois assim ela amplia o seu leque de polinizadores e garante melhor a fecundação. O beija-flor é um

Glaucis hirsutus.

Mimosa paludosa (Fabaceae) na minha interpretação é uma planta que "se garante" de todos os lados. Recebe visitas de vários beija-flores, muitos insetos e suas anteras dispostas esfericamente são sensíveis a qualquer brisa, inclusive se forem provocadas pelo movimento de asas como as deste beija-flor, uma fêmea de Chlorostilbon lucidus. De uma forma ou outra o pólen será transportado para algum lugar. Talvez seja por isso que a planta prolifera em

muitos tipos de solos diferentes.

Mimosa paludosa (Fabaceae) na minha interpretação é uma planta que "se garante" de todos os lados. Recebe visitas de vários beija-flores, muitos insetos e suas anteras dispostas esfericamente são sensíveis a qualquer brisa, inclusive se forem provocadas pelo movimento de asas como as deste beija-flor, uma fêmea de Chlorostilbon lucidus.
A flor do Maracujá (Passiflora edulis - Passifloraceae) tem o seu néctar libado por um Phaethornis pretrei (leucístico).

A flor do Maracujá (Passiflora edulis - Passifloraceae) tem o seu néctar libado por um Phaethornis pretrei (leucístico). A forma como o beija-flor acessa o néctar, sem encostar nas partes sexuais da flor, deixa claro que estas aves não são os polinizadores habituais da planta. O bico da ave é muito especializado para esta polinização. Os polinizadores mais eficientes neste caso são as abelhas, especialmente as grandes "Mamangavas", que ao pousar na flor fazem a "maior bagunça" espalhando o pólen para todos os lados.

A polinização por beija-flores neste caso pode ocorrer, mas com menos probabilidades. Um beija-flor de bico curto encostaria a fronte nas partes sexuais da flor e aumentaria as chances da mesma desenvolver um fruto.

A vida consegue seu intento.

Às vezes pelas plumas,

Outras vezes pelo vento...

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