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IridescĂȘncia

Na plumagem de aves como canários, as cores são produzidas por pigmentos químicos que absorvem certos comprimentos de onda da luz branca e refletem o restante, que nossos olhos veem como as cores complementares. Sanhaços, saíras ou tucanos são exemplos similares, mas diferente dessas aves as cores dos beija-flores mudam conforme o ângulo em que são vistas.    

 

            Mais contrastadas, as cores iridescentes dos beija-flores são estruturais e são causadas ​​por interferências. Quer seja de origem química ou estrutural, as cores se originam na estrutura das penas, especificamente nas bárbulas. Uma plumagem iridescente vista sob luz fraca, seria escura e opaca. Se eu recorresse à física para explicar o significado da palavra "iridescência", teria uma definição mais precisa, mas simplificadamente podemos entender que iridescência é a propriedade de certos corpos refletirem cores como em um arco íris.

         

   Se esquecermos da arrebatadora forma de voar dos beija-flores, ainda ficaremos hipnotizados pelas suas cores. Não é para menos que os machos as usam para afastar competidores e atrair as fêmeas. Algumas espécies se reúnem num determinado espaço chamado "arena" e aí fazem suas exibições como em uma competição. A fêmea os observa e faz a escolha. É um espetáculo que perdura a milhões de anos e

para o qual não falta "platéia".

Chrysolampis mosquitus (macho) é um beija-flor que pode brilhar como se "estivesse em chamas". No entanto ele "sabe ficar apagado" quando quer. Basta que fique pousado nas sombras o que também parece gostar de fazer. "Brilhar" o tempo todo não convém e pode atrair um eventual predador. Suas cores são incomuns entre a maioria das outras espécies. Quando o avistei pela primeira vez entre os ramos de um arbusto na Caatinga do interior da Bahia, cheguei a duvidar que se tratasse daquele beija-flor "luminoso" que eu só conhecia por fotos.

 

Acima, as flores sĂŁo da Aechmea emmerichiae (Bromeliaceae).

Observem estas duas imagens de Heliodoxa rubricauda (macho). A fronte e a garganta "iluminaram-se" quando o beija-flor virou seu rosto em direção à câmera. O conjunto das penas nesta área da garganta é responsável pelo efeito. Estas penas curtas e arredondadas encaixam-se como as escamas de um peixe e atuam como "espelhos parabólicos". O brilho é altamente direcional e por isso, aquela área aparece escura quando vista dos lados. No caso, os “espelhos” curvam-se um pouco para dentro e concentram a cor de modo que esta somente seja vista de frente, tal como seria  vista por um rival em um confronto ou uma fêmea em um "encontro".

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Abaixo, as tres imagens de Lampornis calolaema -Macho),

um beija-flor da Costa Rica mostram  uma situação bem semelhante.

Na garganta desta fĂȘmea de Calliphlox amethystina, podemos observar bem a forma das penas responsĂĄveis pelo reflexo colorido. Lembra as pequenas "lantejoulas" comumente usadas em alguns trajes femininos para fazer com que brilhem sob as luzes. NĂŁo Ă© comum encontrar esta cor ametista nas fĂȘmeas e quando existe, Ă© apenas em plumas esporĂĄdicas como estas.

 

 

Quando a plumagem do macho estiver no auge, estes minĂșsculos "espelhos" serĂŁo em maior quantidade e formarĂŁo um  "espelho grande" e multifacetado.

O conjunto tem a  finalidade de intimidar concorrentes

e seduzir fĂȘmeas para acasalamento.

 

 As flores sĂŁo de Epidendrum fulgens (Orchidaceae), encontrada em estado nativo em muitas regiĂ”es do Brasil.

 

 

 

 

Comparado com a imagem

acima e Ă  esquerda, a garganta deste exemplar exibe menos brilho. O ponto de vista da cĂąmera um pouco mais abaixo, foi o suficiente para que o reflexo ficasse mais tĂȘnue. 

Como podem ver nesta imagem (ainda Calliphlox amethystina-macho) o brilho da garganta desaparece completamente deste Ăąngulo. A flor Ă© de Barleria micans (Acanthaceae).

Heliomaster squamosus (macho) é outro exemplo. Um belo e elegante beija-flor visitando as flores da Eugenia uniflora (Mirtaceae), conhecida por "pitangueira". Estas não são suas flores preferidas. Insetos são os maiores frequentadores deste tipo de florada mas afinal, viver é fazer concessÔes.

Heliomaster squamosus (macho), agora  visto de perfil. As cores da garganta  parecem mais escuras e opacas  por causa da direcionalidade do brilho. É preciso que seja visto de frente para "cintilar", como na foto anterior.

As flores sĂŁo de Dyckia trichostachya (Bromeliaceae), nativa dos Cerrados.

À esquerda, Chlorostilbon lucidus (macho)  e as flores da Ruttya fruticosa (Acanthaceae), planta de origem africana.

À direita, Thalurania glaucopis (macho).

 

 

Os diferentes tons de verde iridescentes vistos na plumagem do corpo destes beija-flores podem ser vistos de quase todos os Ăąngulos. Acontece assim porque os “espelhos” sĂŁo menos curvados e a iridescĂȘncia espalha-se em Ăąngulo mais aberto.

Chionomesa lactea (acima) e Chlorestes cyanus (à direita), exibem entre outros, belos tons azulados na garganta ou garganta e fronte respectivamente. São tons que, tal como os esverdeados, refletem-se em ângulos mais abertos. Acima, as flores são de Heliconia rostrata (Heliconiaceae).

Observem como  o beija-flor-dourado (Hylocharis chrysura) pode parecer tão diferente aos nossos olhos, quando visto por ângulos e luzes diferentes. Observem a cauda na foto à direita, pois apenas metade dela  brilha.

Nesta espécie, macho e fêmea possuem plumagem semelhante.

Flores de Nematanthus tessmannii - Gesneriaceae (acima) e Cordilyne fruticosa - Laxmanniaceae (à direita), ambas nativas da Mata Atlântica.

As penas das asas e cauda costumam ser de cor cinza escuro ou enegrecidas em todos os beija-flores e raramente produzem iridescĂȘncia, porque  evoluĂ­ram para terem resistĂȘncia. NĂŁo devemos nos enganar com a aparente fragilidade destas pequenas aves. A natureza as dotou com capacidade para executar manobras radicais em voo. O stress estrutural gerado nas constantes acrobacias, requer que essas penas sejam reforçadas.

Acima, Chlorostilbon lucidus  (macho) e as flores de Columnea sp. (Gesneriaceae). À esquerda Lophornis magnificus (macho) e as flores de Eucalyptus ficifolia (Myrtaceae), planta originĂĄria da AustrĂĄlia).

E Agora?  O que este beija-flor faz aqui?  NĂŁo brilha nem de frente e nem de lado. Esta nĂŁo Ă© uma pĂĄgina sobre iridescĂȘncia? Sim, Ă© sobre o fascinante brilho dos beija-flores, etc. e tal, mas Ă© tambĂ©m para lembrar exceçÔes. Escrevi tanto sobre cores reluzentes, brilhos ou reflexos que poderia ter criado uma falsa ideia de que todos os beija-flores fossem assim. A verdade Ă© que nĂŁo existem “regras” na evolução. Existe adaptação e Aphantochroa cirrochloris o Beija-flor-cinza  nos mostra isso. Ele nĂŁo blefa com cores e reflexos, pois comparado aos outros beija-flores ele brilha muito pouco. Talvez seja por isso que ele briga sem hesitação para defender seu territĂłrio. É um dos beija-flores mais agressivos que conheço. Quanto ao sucesso em conquistar as  fĂȘmeas, digamos que ele tem seu ... charme.

Acima, a flor da Bixa orellana (Bixaceae) ou Urucum.

Nas sombras, era apenas outra que esvoaçava!

À luz, mostrou cores  que mudavam de lugar!

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