BEIJA-FLORES e suas FLORES Hummingbirds and their flowers
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Fotos e textos - José Francisco Haydu & Verônica Bender Haydu
IridescĂȘncia
Na plumagem de aves como canários, as cores são produzidas por pigmentos químicos que absorvem certos comprimentos de onda da luz branca e refletem o restante, que nossos olhos veem como as cores complementares. Sanhaços, saíras ou tucanos são exemplos similares, mas diferente dessas aves as cores dos beija-flores mudam conforme o ângulo em que são vistas.
Mais contrastadas, as cores iridescentes dos beija-flores são estruturais e são causadas ââpor interferências. Quer seja de origem química ou estrutural, as cores se originam na estrutura das penas, especificamente nas bárbulas. Uma plumagem iridescente vista sob luz fraca, seria escura e opaca. Se eu recorresse à física para explicar o significado da palavra "iridescência", teria uma definição mais precisa, mas simplificadamente podemos entender que iridescência é a propriedade de certos corpos refletirem cores como em um arco íris.
Se esquecermos da arrebatadora forma de voar dos beija-flores, ainda ficaremos hipnotizados pelas suas cores. Não é para menos que os machos as usam para afastar competidores e atrair as fêmeas. Algumas espécies se reúnem num determinado espaço chamado "arena" e aí fazem suas exibições como em uma competição. A fêmea os observa e faz a escolha. É um espetáculo que perdura a milhões de anos e
para o qual não falta "platéia".
Chrysolampis mosquitus (macho) é um beija-flor que pode brilhar como se "estivesse em chamas". No entanto ele "sabe ficar apagado" quando quer. Basta que fique pousado nas sombras o que também parece gostar de fazer. "Brilhar" o tempo todo não convém e pode atrair um eventual predador. Suas cores são incomuns entre a maioria das outras espécies. Quando o avistei pela primeira vez entre os ramos de um arbusto na Caatinga do interior da Bahia, cheguei a duvidar que se tratasse daquele beija-flor "luminoso" que eu só conhecia por fotos.
Acima, as flores sĂŁo da Aechmea emmerichiae (Bromeliaceae).
Observem estas duas imagens de Heliodoxa rubricauda (macho). A fronte e a garganta "iluminaram-se" quando o beija-flor virou seu rosto em direção à câmera. O conjunto das penas nesta área da garganta é responsável pelo efeito. Estas penas curtas e arredondadas encaixam-se como as escamas de um peixe e atuam como "espelhos parabólicos". O brilho é altamente direcional e por isso, aquela área aparece escura quando vista dos lados. No caso, os “espelhos” curvam-se um pouco para dentro e concentram a cor de modo que esta somente seja vista de frente, tal como seria vista por um rival em um confronto ou uma fêmea em um "encontro".
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Abaixo, as tres imagens de Lampornis calolaema -Macho),
um beija-flor da Costa Rica mostram uma situação bem semelhante.
Na garganta desta fĂȘmea de Calliphlox amethystina, podemos observar bem a forma das penas responsĂĄveis pelo reflexo colorido. Lembra as pequenas "lantejoulas" comumente usadas em alguns trajes femininos para fazer com que brilhem sob as luzes. NĂŁo Ă© comum encontrar esta cor ametista nas fĂȘmeas e quando existe, Ă© apenas em plumas esporĂĄdicas como estas.
Quando a plumagem do macho estiver no auge, estes minĂșsculos "espelhos" serĂŁo em maior quantidade e formarĂŁo um "espelho grande" e multifacetado.
O conjunto tem a finalidade de intimidar concorrentes
e seduzir fĂȘmeas para acasalamento.
As flores são de Epidendrum fulgens (Orchidaceae), encontrada em estado nativo em muitas regiÔes do Brasil.
Comparado com a imagem
acima e Ă esquerda, a garganta deste exemplar exibe menos brilho. O ponto de vista da cĂąmera um pouco mais abaixo, foi o suficiente para que o reflexo ficasse mais tĂȘnue.
Como podem ver nesta imagem (ainda Calliphlox amethystina-macho) o brilho da garganta desaparece completamente deste Ăąngulo. A flor Ă© de Barleria micans (Acanthaceae).
Heliomaster squamosus (macho) é outro exemplo. Um belo e elegante beija-flor visitando as flores da Eugenia uniflora (Mirtaceae), conhecida por "pitangueira". Estas não são suas flores preferidas. Insetos são os maiores frequentadores deste tipo de florada mas afinal, viver é fazer concessÔes.
Heliomaster squamosus (macho), agora visto de perfil. As cores da garganta parecem mais escuras e opacas por causa da direcionalidade do brilho. Ă preciso que seja visto de frente para "cintilar", como na foto anterior.
As flores sĂŁo de Dyckia trichostachya (Bromeliaceae), nativa dos Cerrados.
Ă esquerda, Chlorostilbon lucidus (macho) e as flores da Ruttya fruticosa (Acanthaceae), planta de origem africana.
Ă direita, Thalurania glaucopis (macho).
Os diferentes tons de verde iridescentes vistos na plumagem do corpo destes beija-flores podem ser vistos de quase todos os Ăąngulos. Acontece assim porque os âespelhosâ sĂŁo menos curvados e a iridescĂȘncia espalha-se em Ăąngulo mais aberto.
Chionomesa lactea (acima) e Chlorestes cyanus (à direita), exibem entre outros, belos tons azulados na garganta ou garganta e fronte respectivamente. São tons que, tal como os esverdeados, refletem-se em ângulos mais abertos. Acima, as flores são de Heliconia rostrata (Heliconiaceae).
Observem como o beija-flor-dourado (Hylocharis chrysura) pode parecer tão diferente aos nossos olhos, quando visto por ângulos e luzes diferentes. Observem a cauda na foto à direita, pois apenas metade dela brilha.
Nesta espécie, macho e fêmea possuem plumagem semelhante.
Flores de Nematanthus tessmannii - Gesneriaceae (acima) e Cordilyne fruticosa - Laxmanniaceae (à direita), ambas nativas da Mata Atlântica.
As penas das asas e cauda costumam ser de cor cinza escuro ou enegrecidas em todos os beija-flores e raramente produzem iridescĂȘncia, porque evoluĂram para terem resistĂȘncia. NĂŁo devemos nos enganar com a aparente fragilidade destas pequenas aves. A natureza as dotou com capacidade para executar manobras radicais em voo. O stress estrutural gerado nas constantes acrobacias, requer que essas penas sejam reforçadas.
Acima, Chlorostilbon lucidus (macho) e as flores de Columnea sp. (Gesneriaceae). Ă esquerda Lophornis magnificus (macho) e as flores de Eucalyptus ficifolia (Myrtaceae), planta originĂĄria da AustrĂĄlia).
E Agora? O que este beija-flor faz aqui? NĂŁo brilha nem de frente e nem de lado. Esta nĂŁo Ă© uma pĂĄgina sobre iridescĂȘncia? Sim, Ă© sobre o fascinante brilho dos beija-flores, etc. e tal, mas Ă© tambĂ©m para lembrar exceçÔes. Escrevi tanto sobre cores reluzentes, brilhos ou reflexos que poderia ter criado uma falsa ideia de que todos os beija-flores fossem assim. A verdade Ă© que nĂŁo existem âregrasâ na evolução. Existe adaptação e Aphantochroa cirrochloris o Beija-flor-cinza nos mostra isso. Ele nĂŁo blefa com cores e reflexos, pois comparado aos outros beija-flores ele brilha muito pouco. Talvez seja por isso que ele briga sem hesitação para defender seu territĂłrio. Ă um dos beija-flores mais agressivos que conheço. Quanto ao sucesso em conquistar as fĂȘmeas, digamos que ele tem seu ... charme.
Acima, a flor da Bixa orellana (Bixaceae) ou Urucum.